Entre nós, é fácil verificar que os atletas, especialmente os profissionais, dadas as suas naturais deficiências culturais e materiais, imputáveis ao meio e ao nível de vida, não compreendem que a actividade desportiva pressupõe a existência de uma disciplina material e moral em muito aspectos da vida, e isto não só por razões técnicas, mas também por razões de higiene, mental e física.
Reside aqui um dos problemas do nosso desporto, visto que este é um factor de onde deriva o primitivismo técnico na maioria das modalidades e, sobretudo a inutilidade do desporto como método de educação.
É um estafado lugar comum dizer que o desportista não deve fumar, nem beber e que deve abster-se dos excessos alimentares.
As refeições pesadas, o abuso do alcool e do café, o tabagismo e as liberdades sexuais, são vistas e admitidas como naturais, visto que “somos jovens”, “temos muito sangue na guelra!”
Estas desculpas abundam no nosso desporto e, só demonstram ignorância nalguns casos, falta de consciência noutros, mas sobretudo uma ausência total de espírito de sacrifício.
Isto porque não conhecemos prática desportiva ou metodologia de treino que conte entre os seus acessórios com o livro de Pantagruel ou uma garrafeira!
Tal estado de coisas tem reflexos nas modalidades onde a preparação obriga a um trabalho constante ao longo do ano desportivo, como é o caso do futebol, para não falar no esqui ou no rugby, modalidades inexistentes em Penafiel quer por razões climatéricas ou outras que nos escapam..
No Desporto em Penafiel, no futebol em particular, tais questões parecem ser letra morta, salvo durante os famigerados estágios em que os atletas são teoricamente submetidos a um género de vida apropriado, mas contrário aos seus hábitos regulares.
Mas mesmo submetido a um equilibrado regime alimentar e planos de treino rigorosos, o atleta só chegou a meio caminho na via da sua preparação e o que mais importa está longe: - a disciplina no estádio e nos recintos desportivos!
Essa só um esforço paciente de épocas consecutivas a poderá dar!
Mas há entre nós, quem encare tais factos com um sorriso superior, de quem deixa essas preocupações para os medianos que sem essas medidas de higiene física e mental não conseguem progredir.
Qualquer pessoa que leia os jornais (também os locais) conhece o nosso nível nestas modalidades desportivas, dispensamo-nos portanto de comparações.
O que nos preocupa, não são os resultados conseguidos pelas nossas equipas e a falta de categoria técnica demonstrada, mas sobretudo o exemplo que os atletas (profissionais e não só) dão aos mais jovens, criando neles o gosto desvairado pela glória fácil e fugaz de uma fotografia a cores e a mexer, pela ilusão da riqueza ali ao lado a que só alguns deitarão a mão.
Com o espectáculo da sua própria indisciplina, roubam-lhes o gosto pelo trabalho nos treinos e o amor pelo sacrifício...
Confessamos que é triste ver nos nossos recintos desportivos bandos de rapazes correndo desordenadamente atrás de uma bola e, assistir ao aspecto bárbaro da maioria dos treinos, em que se procura conseguir resultados em vez de realizar obra séria.